Opinião – De olho nos olheiros!

No tempo de ânimos exaltados que é o período eleitoral, é preciso pensar além dos candidatos a prefeito. Mais importantes são os olheiros em campo, os juízes do jogo: os vereadores nas câmaras.

Caro leitor,

Neste tempo de ânimos exaltados e de difíceis escolhas que é o período eleitoral, por muitas vezes somos influenciados por amizades, familiaridade ou por ouvir dizer. Ficamos focados na escolha de prefeito, que são os divisores de lados, mas nos esquecemos daqueles que são os juízes do jogo. Para ser um juiz, é preciso ter erudição daquilo que é julgado. Certamente você deve conhecer algum juiz, seja de leis ou fiscal de algum setor, que tem sua admiração. Sou extremamente a favor de câmaras cada vez mais capacitadas, diplomadas e com conhecimento de alguma área, pois só recorremos a um professor, médico, dentista, advogado, arquiteto e engenheiro devido à sua capacidade de bom trabalho. Você certamente já passou por uma entrevista de emprego, e sua escolaridade e conhecimento foram colocados à prova. Por que não podemos ser exigentes em tamanho grau com aqueles que fiscalizam a cidade?

Todavia, é necessário, além do conhecimento teórico, o grau de humanidade e experiência das agonias vividas pelo povo, onde muitas vezes os doutores não conhecerão o sofrimento do povo. Precisamos ter equilíbrio nas câmaras, visto que o vereador pode se cercar de outros profissionais que irão ajudá-lo ao longo do mandato. Mas é imprescindível que, ao longo do tempo, ele se capacite, para não termos aquelas sessões que acabam virando memes. Candidatos muito exaltados e populistas tendem a ser os protagonistas de memes e falácias.

Ouve-se falar de uma câmara numa cidade do centro-oeste mineiro, onde um parlamentar exigiu pães de queijo na sessão ordinária. Outra, numa cidade do sul de Minas, lançou uma nota de apoio a Israel enquanto a passagem de ônibus do município se tornava uma das mais caras do país. Refiro-me a Itapecerica e Poços de Caldas, ambas em Minas Gerais. Há ainda outra cidade do sul de Minas onde um representante eleito teve que correr às pressas para aprender a assinar o próprio nome… Com certeza Tancredo Neves e Carlos Drummond de Andrade devem ficar inquietos em seus túmulos.

As câmaras tendem a ter lados: base, oposição, centro. Isso é normal, mas muitos se esquecem que o principal fator é o povo, e as consequências que os projetos e leis irão afetar a vida dos cidadãos. Por isso, candidatos muito amigáveis de prefeito, de dentro de casa, são uma péssima opção. Pois certamente, nós, o povo, ficaremos fora dos planos. Outros que estão indo para o terceiro, quarto mandato são preocupantes, pois já fizeram da vereança uma profissão. Acredito que até três mandatos são suficientes, pois acontece estagnação e muito interesse político. Assim como limite de idade, de longe querer cometer etarismo, mas como exemplo dos EUA, veio ainda mais reforçar minha opinião: política não deve ser uma extensão de casa de repouso. Acredito que pessoas com boas 7 décadas devem aproveitar o melhor da vida, e certamente já deixaram seu legado.

Concorrer à reeleição é o mais difícil, pois criticar e apontar o que está errado é mais fácil. Mas disputar novamente é mostrar aquilo que já se fez e como se portou nos últimos quatro anos. Basta acessar o site das câmaras municipais, que você terá acesso a todos os projetos e à vida legislativa dos eleitos. Dedique um tempo a isso, queridos amigos. Não seja influenciado por cortes de fala do Instagram ou TikTok. Trago como exemplo a Câmara de Anápolis-GO. Fiz uma pesquisa no trabalho de cada vereador, temos algumas exceções, claro, mas a maioria, principalmente os mais antigos, realizaram apenas UM projeto ao longo de 2024, e menos de 400 no total ao longo dos anos, somando requerimentos, indicações e projetos de decreto, em uma cidade de 400 mil habitantes. A produção da câmara é baixíssima. Meu caro empresário, você mantém funcionários com baixa produtividade em seus negócios?

Me assustou o quão baixa é a produtividade da câmara anapolina: projetos fúteis e sem relevância para o município, fora baixos requerimentos. Pois uma ida ao centro da cidade, conseguimos fazer uma lista de situações deploráveis em que se encontra a cidade. Isso é reflexo de nossas escolhas vãs e sem raciocínio que colocamos essas pessoas que receberam salários que saltaram de R$13.611,73 para R$20.864,78. Somente poucos nomes foram contra. A maioria dos vereadores aprovou o projeto.

Meu caro leitor, difíceis nossas lutas diárias, ainda mais quando devemos nos preocupar com nosso papel cidadão. Mas certamente você tem seu papel familiar, de amigos, no trabalho. Inclua na sua vida o papel cidadão, onde você irá desempenhar a função de ser fiscal dos seus representantes. Como mencionei em outro texto, é preciso confrontar. São os empregados do povo. E para você, candidato, se não quer cobrança e exposição, melhor não se arriscar na vida pública.

Que tenhamos sensatez e perspicácia nesta eleição. Deixemos de lado nossas paixões e convicções muito exageradas e votemos naqueles que realmente vejamos como nossos apoiadores e que estarão fazendo um bom trabalho enquanto estamos na correria do dia a dia. Não deixemos que este espaço tão importante da nossa cidade seja palco para tantos atos de decadência e falta de civilidade e coerência. Trazendo outra citação própria: se a câmara não sabe e não faz fiscalizar, o executivo pinta e borda conforme sua vontade.

“Temos construído esta Nação com êxitos e dificuldades, mas não há dúvida, para quem saiba examinar a História com isenção, de que o nosso progresso político deveu-se mais à força reivindicadora dos homens do povo do que à consciência das elites.” — Tancredo Neves

Aguiar Diniz Anápolis

Vítor Aguiar Diniz é historiador e colaborador do DR.

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