Empresas escondem uma realidade sombria: o assédio moral. Práticas perversas como ridicularização sistemática, isolamento forçado, alterações arbitrárias de responsabilidades e atribuições, desvalorização de contribuições e impossíveis demandas de produtividade criam um ambiente tóxico. Essa cultura de humilhação e desrespeito, alimentada por um obsessivo foco em resultados, utiliza abuso de poder, violência psicológica e punição para controlar colaboradores. A desumanização do trabalhador se torna uma consequência devastadora.
O assédio moral, outrora explícito, agora se disfarça em violência silenciosa, frequentemente ignorada ou ocultada. Colaboradores relatam comportamentos abusivos de superiores, como descontrole emocional, ameaças, gritos, humilhações públicas e agressões verbais. Essas atitudes corroem a autoestima, levando a danos irreversíveis: questionamento de habilidades, problemas de saúde física, emocional e comportamental, ansiedade, depressão e síndrome de burnout. A situação é alarmante: a síndrome de burnout quadruplicou entre 2020 e 2023. É fundamental combater esse mal, protegendo a saúde mental e os direitos dos trabalhadores.
Cristina, vítima de assédio moral em uma instituição de Anápolis, fala que os danos foram terríveis: “Sempre tive um pensamento de que o assediador seria uma espécie de monstro, uma pessoa má, um vilão mesmo, mas não é assim. O assediador é alguém normal, que tem família, amigos e é até religioso. Eu demorei para entender o que estava acontecendo comigo, nunca imaginei! A agressora tinha uma boa fama na empresa, se preocupava muito em passar a imagem de gerente preocupada e humanizada. Ela agia de uma forma velada, fazia cafés da manhã para a equipe, escrevia recadinhos e era cheia de apelidinhos carinhosos, mas depois, sofríamos com situações constrangedoras, muita ameaça e intimidação”.
O assédio moral, caracterizado como crime, envolve dano moral habitual e repetitivo, com intencionalidade e impacto pessoal. A crescente visibilidade desse problema nas organizações, alimentada por debates nas redes sociais e mídias, resultou em um aumento significativo de denúncias. Conforme dados do CNJ (2024), a Justiça do Trabalho julgou mais de 400 mil casos em apenas três anos. Essa tendência reflete uma mudança na percepção dos riscos ocupacionais, que agora incluem não apenas acidentes mecânicos, mas também riscos psicossociais.
Cristina, diz que foi uma decisão difícil relatar o caso aos superiores, visto que o seu emprego estaria em risco. “Eu decidi fazer a denúncia de forma anônima, mas se passaram meses e a perseguição ficou pior. Então, denunciei aos diretores da empresa e logo, o que mais temia aconteceu, fui desligada. Falo que foi um ato de coragem, pois além de mim, meus colegas estavam passando por humilhações constantes. Agora entrei com um processo judicial contra a empresa e provarei todo o assédio. Soube por colegas, que após minha primeira audiência, a gerente foi afastada da unidade de Anápolis, me senti mais aliviada, depois de sofrer tanto, ainda estou em tratamento, desenvolvi ansiedade e tenho dificuldades com o sono”.
Um verdadeiro dilema ético de violência somada a uma ausência de resposta formal da instituição, deixam vítimas silenciadas e culpabilizadas. A natureza subjetiva do assédio moral torna as denúncias mais complicadas e a falta de ação das empresas faz com que os indivíduos permaneçam nas empresas em função do benefício financeiro. Contraditório pensar que o “cuidar de gente” fica apenas na teoria e nos livros de gestão de pessoas. A gestão que deveria ser humanizada e cuidar de seus colaboradores, que já foi até comprovado que colaborador feliz produz mais, prefere ir na contramão.
A situação de assédio moral traz consequências catastróficas, atingindo não apenas as vítimas, mas também as empresas, com impactos significativos em reputação, competitividade e produtividade, gerando perda de talentos, rotatividade, conflitos interpessoais, gastos judiciais e perda de capital humano. Para erradicar o assédio moral, é fundamental uma mobilização societária eficaz, protegendo a dignidade humana e direitos fundamentais. Isso exige estratégias de prevenção como educação, conscientização, políticas institucionais robustas e mudança cultural. As empresas devem agir com transparência, disponibilizando canais de denúncias, promovendo ação ética e criando ambientes seguros, valorizados e produtivos.
Por: Alana de Almeida, professora Universitária e Consultora em Gestão de Pessoas