Consequências do uso excessivo das telas para saúde infantil

No contexto contemporâneo, as telas, anteriormente restritas à televisão, agora se expandiram para incluir uma variedade de dispositivos eletrônicos. Crianças estão sendo introduzidas às novas tecnologias cada vez mais cedo, muitas vezes com o objetivo de mantê-las ocupadas para que os pais possam cumprir suas atividades diárias. Essas tecnologias modernas, como smartphones, tablets, notebooks, computadores e videogames, são utilizadas para entreter as crianças, sendo a televisão ainda o meio mais comum entre as crianças em idade pré-escolar.

É amplamente reconhecido que os primeiros 1000 dias de vida de uma criança, juntamente com a idade escolar e a adolescência, são cruciais para o desenvolvimento cerebral e mental adequado. O uso excessivo de diferentes formas de mídia digital por crianças cada vez mais jovens é um dos fatores que contribuem para possíveis danos a longo prazo nas áreas motora, linguística e psicossocial, essenciais para esse desenvolvimento. Portanto, o tempo prolongado de exposição às telas está associado à saúde física e mental dessas crianças e adolescentes.

Bebês expostos por longos períodos às telas frequentemente apresentam atrasos no desenvolvimento da fala e da linguagem. Estudos recentes indicam uma correlação negativa entre o tempo de exposição às telas e a funcionalidade das áreas cerebrais responsáveis pelo processamento visual das palavras e pelo controle cognitivo (relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio). No caso dos adolescentes, o mundo digital pode influenciar o desenvolvimento de sua identidade, autonomia e habilidades sociais, além de promover hábitos sedentários que podem persistir ao longo da vida, contribuindo para problemas de saúde física e mental no futuro.

Além disso, a exposição prolongada às telas pode causar síndrome do olho seco devido à falta de lubrificação ocular adequada. Também pode levar a uma redução na produção de melatonina, o hormônio do sono, devido à exposição à luz durante a noite, perturbando o ciclo de sono natural e contribuindo para a insônia, muitas vezes agravada pela ansiedade. É importante destacar que sintomas depressivos e pensamentos suicidas estão associados à falta de sono, ao uso de telas durante a noite e à dependência emocional desses dispositivos por parte das crianças, podendo ser comparados aos vícios resultantes do uso de substâncias ilícitas. Além disso, a exposição precoce e prolongada a conteúdos violentos está correlacionada com transtornos antissociais, o que pode promover uma atitude de desconsideração e falta de empatia nas crianças.

O uso excessivo das mídias digitais pode prejudicar o desenvolvimento neuropsicomotor, afetando negativamente a saúde física e mental das crianças, tornando-as mais sedentárias e menos interativas. Isso, por sua vez, contribui para o surgimento de doenças como obesidade e depressão. Estudos mostram claramente os efeitos negativos do uso excessivo dessas tecnologias nas crianças, destacando a importância da conscientização dos pais e responsáveis para monitorar o uso desses dispositivos. É crucial intervir desde o primeiro contato com essas tecnologias, pois os efeitos prejudiciais da exposição prolongada podem começar desde cedo.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alinhada com as diretrizes da Academia Americana de Pediatria (AAP), sugere que o tempo dedicado às telas seja adequado à idade, levando em consideração o estágio de desenvolvimento cerebral. É recomendado evitar completamente a exposição de crianças menores de 2 anos às telas, mesmo de forma passiva. Para crianças entre 2 e 5 anos, é aconselhável limitar o tempo de tela a 1

hora por dia, com os pais ou responsáveis supervisionando o conteúdo acessado e verificando a classificação indicativa dos programas. Já para crianças a partir de 6 anos e adolescentes, é recomendado que o tempo de tela seja sempre supervisionado e limitado a 1-2 horas por dia, exceto em situações relacionadas a trabalhos acadêmicos, devendo ser estabelecidos intervalos para descanso e atividades físicas.

Portanto, é fundamental promover um equilíbrio saudável no uso das mídias digitais, garantindo que as crianças tenham acesso a estímulos variados que promovam seu desenvolvimento neuropsicomotor de maneira adequada. Isso requer uma abordagem consciente por parte dos pais, educadores e sociedade como um todo, reconhecendo os benefícios e os riscos associados ao uso das tecnologias digitais na infância e adolescência.

Vanessa Vieira, é Biologa, Doutora em Ciência animal na área de Cirurgia, Patologia animal e Clínica médica – pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Ciências Veterinárias na área de Saúde Animal – pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora da Faculdade Metropolitana de Anápolis – FAMA. (Artigo especial publicado toda sexta-feira)

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