Ao final da tarde, a movimentada Praça Bom Jesus, no coração de Anápolis (GO), ganha um novo som: dezenas de vozes estridentes que preenchem o ar e chamam a atenção de quem circula pelo centro. O espetáculo é protagonizado por bandos de periquitos-do-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri), também conhecidos popularmente como periquitos-verdes.
Essas pequenas aves de cores vibrantes fazem parte da família dos psitacídeos. Com cerca de 22 a 24 centímetros, destacam-se pela plumagem verde-brilhante e, principalmente, pela característica mancha amarela nas asas, visível tanto em voo quanto quando estão empoleirados. O bico de tom branco-amarronzado completa sua aparência.
Segundo o ornitólogo André Luiz Teixeira, que estuda o comportamento de aves urbanas no Centro-Oeste, a presença dos periquitos é um exemplo claro da adaptação da fauna silvestre ao ambiente das cidades: “Esse periquito é facilmente identificado pelo verde intenso e a mancha amarela nas asas. O que mais chama a atenção é o comportamento coletivo: eles são muito sociais e fazem desses espaços urbanos um ponto seguro para dormir em bando”, explica o especialista.
Além da socialização intensa, o ornitólogo destaca que os periquitos-verdes mantêm fortes laços de convivência em pares dentro dos bandos, formando casais monogâmicos que se mantêm juntos por longos períodos. “Eles são aves fiéis, e mesmo dentro de grandes grupos, é comum observar os pares sempre próximos, vocalizando e se alisando mutuamente, o que reforça os vínculos afetivos”, comenta.
Originários do Cerrado e de florestas abertas como a Floresta Mesófila, esses periquitos expandiram seu território e se adaptaram com facilidade às áreas urbanas. Hoje, são presença frequente em praças e parques de diversas cidades brasileiras e, em Anápolis, fazem da Praça Bom Jesus um de seus pontos de encontro mais regulares.
O ambiente urbano oferece tudo o que essas aves precisam: árvores frutíferas, flores, sementes e até restos de alimentos humanos. As copas altas, especialmente de palmeiras, funcionam como locais ideais para descanso coletivo e proteção contra predadores naturais. Ao final do dia, esses espaços se tornam dormitório para bandos inteiros, que chegam em revoada, pousam nos galhos mais altos e ali permanecem até o amanhecer.
Outro aspecto curioso observado por especialistas é a pontualidade desses bandos. “Eles tendem a seguir um relógio interno bastante preciso. Quase sempre chegam à mesma hora, no final da tarde, e ocupam as mesmas árvores preferidas, o que demonstra uma forte memória espacial”, observa Teixeira. O ornitólogo também chama atenção para o papel das vocalizações: além de manter o grupo unido e alertar sobre perigos, os sons são usados para coordenar os pousos e organizar os espaços nos galhos.
Extremamente sociáveis, os periquitos-verdes mantêm uma intensa comunicação vocal. O barulho uma mistura de chamados agudos e rápidos pode causar estranhamento ou até incômodo para alguns, mas representa um retrato vivo da integração entre natureza e cidade. Durante o dia, circulam por quintais, áreas verdes e outros pontos urbanos em busca de alimento, mas é na praça central que o espetáculo da convivência se revela com mais força: um fim de tarde marcado por som, cor e movimento. Para quem passa pelo local, é impossível não notar ou ouvir essa cena que, dia após dia, transforma a rotina da cidade em poesia natural.