O maior sino em atividade do mundo, o Vox Patris, que ecoará em Trindade durante a Romaria do Divino Pai Eterno, carrega nas suas formas e relevos muito mais que bronze fundido: leva a assinatura artística de um filho de Anápolis. O escultor e artista plástico Silvio de Morais, responsável pela concepção artística do monumento sonoro, contou ao Diário da Redação, em entrevista exclusiva, como trilhou o caminho da arte desde menino até chegar à criação que hoje impressiona fiéis e curiosos.
“Depois de muita trajetória na minha vida, eu valorizo tudo o que aconteceu desde o início, lá na Escolinha Municipal de Artes Oswaldo Verano, em Anápolis, quando eu tinha 13 anos. Entrei lá por curiosidade, empurrando a bicicleta e segurando minha gatinha no colo, e me apaixonei por ver tanta gente desenhando”, recorda Silvio.
Entre jornadas de trabalho e pincéis, ele persistiu. Estudou três anos na escolinha, expôs em salões de arte locais, conquistou prêmios e viu seu talento crescer junto com Anápolis. A cidade, aliás, exibe muitas das marcas deixadas por ele: do Monumento dos Romeiros, de 12 metros, ao imponente Monumento do Centenário, de 25 metros, que recepciona quem chega à cidade. Obras suas também embelezam o Parque Ipiranga, o viaduto Nelson Mandela e a Praça da Bíblia.
“Hoje, vou pela cidade e me deparo com minhas obras espalhadas. Faço uma ligação entre aquela criança que começou lá numa escolinha de artes e o artista que sou hoje. É uma sensação de realização”, conta, emocionado.
A ligação com a arte sacra sempre caminhou paralela ao trabalho em espaços públicos. “Desde criança, fui muito ligado à igreja, minha mãe era do apostolado da oração, e isso sempre me inspirou. Tenho obras sacras não só em Anápolis, mas espalhadas por vários estados do Brasil”, explica.
Foi justamente essa experiência com arte sacra que o levou até o projeto do Vox Patris. “O maior desafio foi pensar num sino que tivesse a nossa identidade. Quando me encomendaram a arte, descartei os desenhos enviados da Polônia. Quis valorizar o cerrado, a vegetação, os pássaros. Quis que o sino fosse nosso, contasse a história da devoção ao Pai Eterno”, explica.
Silvio desenhou cada detalhe do sino, pintou telas em tamanho real que serviram de base para a fundição na Polônia e participou ativamente de todas as etapas criativas. “Praticamente, não houve um desafio impossível. Houve um pensamento certeiro do que eu queria, e deu tudo certo.”
Enquanto o Vox Patris badala em Trindade, Silvio segue com o olhar atento para novas obras e monumentos, sempre guiado pela ousadia que, segundo ele, todo artista precisa ter. “Nós, artistas, somos os que levamos ideias e visões. Temos que ser ousados para mostrar que é possível realizar o que muitos acham grandioso demais.”
E é assim, entre bronze, pincéis e concreto, que Silvio de Morais segue deixando Anápolis e agora também Trindade repletas de arte, fé e história.