Faleceu nessa sexta feira dia 08 de agosto, aos 66 anos, o cantor e compositor Arlindo Cruz, um dos maiores nomes da história do samba. Internado desde março para tratar uma pneumonia agravada por uma infecção resistente, Arlindo já enfrentava, há oito anos, uma longa batalha contra as sequelas de um acidente vascular cerebral.
Sua esposa, Babi Cruz, vinha compartilhando, com delicadeza e força, os altos e baixos dessa caminhada. Em julho, ela contou que Arlindo já não reagia mais a estímulos como antes, que estava “cada vez mais distante”. Ainda assim, nunca deixou de estar cercado de amor, carinho e música.
Arlindo Cruz nasceu em 1958, no Rio de Janeiro, e foi criado no bairro de Madureira, terra fértil do samba carioca. Desde pequeno, o som do cavaquinho fazia parte da rotina da casa não demorou para que ele mesmo começasse a dedilhar os primeiros acordes. Ainda adolescente, chegou a estudar em uma escola preparatória da aeronáutica, mas nunca se desligou do ritmo que corria em suas veias.
De volta ao Rio, se jogou de cabeça nas rodas de samba, especialmente no Cacique de Ramos, onde conheceu grandes nomes como Beth Carvalho, Jorge Aragão e Sombrinha, que se tornaria seu parceiro de composições por décadas.
Foi ali que Arlindo se destacou como compositor, suas letras, repletas de sentimento, crítica social e identidade, logo passaram a ser gravadas por nomes consagrados. Mas foi em 1981 que ele entrou de vez para a história ao assumir o cavaquinho do grupo Fundo de Quintal, substituindo ninguém menos que Jorge Aragão. Permaneceu no grupo por 12 anos, até seguir carreira solo e se consolidar como um artista completo.
Ao todo, Arlindo Cruz lançou 24 álbuns, incluindo trabalhos com o Fundo de Quintal, a carreira solo e os discos em parceria com Sombrinha. Foi indicado ao Grammy Latino, venceu o Prêmio da Música Brasileira e compôs sambas-enredo inesquecíveis para escolas como Império Serrano, Vila Isabel e Grande Rio colecionando prêmios e arrebatando multidões na Marquês de Sapucaí.
Em 2017, no auge da maturidade artística, Arlindo foi surpreendido por um AVC enquanto tomava banho em casa. Desde então, sua vida mudou drasticamente. A saúde ficou fragilizada, ele perdeu parte dos movimentos e da fala, mas o carinho do público e da família nunca deixou de acompanhá-lo. Foram anos de tratamento, esperança, e momentos de rara emoção como o desfile de 2023, quando a Império Serrano o homenageou com o enredo “Lugares de Arlindo”, levando-o em um trono, rodeado por amigos e pela comunidade do samba.
Hoje, o Brasil se despede não só de um artista, mas de um símbolo. Arlindo Cruz representou, com sua música, a alma do povo brasileiro. Suas letras, sua voz e sua alegria permanecerão vivas em cada roda de samba, em cada avenida, em cada coração tocado por sua arte.
Arlindo deixa a esposa, Babi Cruz, os filhos Arlindinho, que segue os passos do pai na música — e Flora Cruz, além de uma legião de fãs e admiradores que sempre lembrarão dele como um gigante do samba e um ser humano de luz.
O show, como ele dizia, tem que continuar. Mas hoje, o palco chora.