Silvio Morais, o artista por trás das obras que adornam o maior sino do mundo, possui uma história de vida e arte que começa em Anápolis, onde sua trajetória artística foi moldada e alimentada pela cultura local e pelas experiências vividas na cidade. Em uma entrevista exclusiva ao Diário da Redação, o artista compartilhou sua jornada, que mistura arte, fé e uma conexão profunda com a história de Goiás.
As raízes anapolinas e o início na escola de artes
A história de Silvio Morais como artista começa aos 13 anos, quando ele se inscreveu na Escolinha Municipal de Artes Oswaldo Verano, em Anápolis, no ano de 1987. “Eu lembro que, na época, tudo era muito novo para mim. Eu vi os alunos desenhando e fiquei encantado com aquilo”, conta. Morais tinha apenas 13 anos e, como muitos jovens de sua geração, enfrentava dificuldades financeiras. Trabalhando em paralelo, ele conseguiu conciliar o trabalho com os estudos e, aos poucos, foi se apaixonando pela arte.
“Eu tinha que trabalhar para ajudar em casa, mas meu patrão me deu a oportunidade de reduzir minha carga horária para que eu pudesse fazer o curso de artes. Foi uma chance única”, lembra. Durante os três anos de estudos na escola, ele se envolveu ativamente com os salões de arte locais e com os concursos que aconteciam em Anápolis. “Me esforcei para participar de exposições e concursos, e comecei a ganhar prêmios. Isso me motivou a seguir firme nesse caminho.”
A arte de monumentos e a transformação de Anápolis
Com o tempo, as obras de Morais começaram a ganhar destaque não só na cidade, mas em todo o estado de Goiás. Em 2000, um dos marcos de sua carreira foi a criação do monumento em homenagem ao Centenário de Anápolis, uma obra encomendadas pela Igreja e com a participação da Prefeitura. “Eu sempre imaginei que as cidades precisavam de monumentos, de obras de arte espalhadas pelas praças e ruas, como uma forma de cultura viva para a população”, afirma.
Outros monumentos significativos em Anápolis, como o monumento dos Romeiros, o obelisco do Viaduto Nelson Mandela e o monumento da Praça da Bíblia, são apenas algumas das importantes obras de arte pública de Silvio Morais. “Cada obra dessas tem um significado muito especial para mim, principalmente porque elas estão na minha cidade, espalhadas pelos espaços urbanos, onde posso ver e saber que fiz parte da construção da identidade cultural de Anápolis.”

O desafio do maior sino do mundo
Quando o padre Robson, responsável pela construção do maior sino do mundo, o convidou para criar as ilustrações que decorariam o sino, Morais não hesitou em abraçar o desafio. “O maior desafio foi dar um toque regional ao sino, mesmo sabendo que ele seria produzido na Polônia. Eu queria que as imagens e ornamentos falassem da nossa cultura, do cerrado, das aves, da vegetação e da devoção ao Pai Eterno, em Trindade.”
Em sua proposta, Silvio Morais decidiu regionalizar o sino, descartando as sugestões dos poloneses e trazendo elementos que representassem Goiás. “Eu fiz os rascunhos, criei as cenas e com isso consegui criar um cenário que falasse diretamente com nossa identidade cultural. O sino precisava carregar uma mensagem nossa, e não uma padronizada”, explica.
Com o aval dos responsáveis pelo projeto, as ilustrações foram finalmente reproduzidas no sino, que, além de sua grandiosidade, carrega a assinatura de um artista profundamente conectado com a tradição e a cultura local.

A influência da arte sacra e a conexão com a fé
Embora Silvio Morais seja um nome conhecido por suas obras públicas, ele também tem uma relação especial com a arte sacra. Desde sua infância, ele sempre esteve envolvido com a igreja. “Minha mãe era do apostolado da oração, íamos à missa todo domingo, rezávamos os terços. A fé sempre fez parte da minha vida”, relembra. Essa conexão com a religião foi fundamental para que ele desenvolvesse uma carreira paralela na arte sacra, criando painéis em igrejas de Anápolis e de várias outras cidades do Brasil.
Hoje, seu trabalho é considerado uma referência em espaços litúrgicos e arte sacra. “Sou especializado em espaços de celebração religiosa, e essa experiência sempre se integrou com a minha arte. A arquitetura e a arte se complementam, criando um ambiente único para a vivência religiosa”, afirma.
O impacto da arte pública em Goiás
Silvio Morais acredita no poder da arte pública para transformar a percepção das cidades e da população. “A arte pública é essencial para a identidade de uma cidade. Em Goiás, precisamos de mais obras que representem nossa cultura, nossa história. A arte é uma forma de diálogo com a sociedade, e acredito que quanto mais fizermos, mais os governantes irão perceber a importância de investir nesse tipo de projeto.”
Para ele, a ousadia do artista é fundamental. “Na minha cidade nunca teve um monumento expressivo, de tamanho gigantesco, que chamasse a atenção, sabe? Quando fiz o monumento dos Romeiros, sugeri que tivesse 12 metros, e acabamos com 10. O monumento dos Centenários de Anápolis, eles pensavam que tinham dois metros e meio. Na verdade, eu queria com 25 metros. Fizemos com 25 metros. Então, hoje é um monumento representativo e compõe muito bem a entrada da nossa cidade. O do viaduto Nelson Mandela, com 35 metros. O monumento da Praça da Bíblia tem 9 metros. Não tenho medo de propor algo grande, porque sei que a arte é capaz de transformar e de deixar uma marca permanente”, finaliza.

Anápolis e o artista Silvio Morais
Hoje, Silvio Morais se vê como parte indissociável de Anápolis. “Eu vejo minhas obras espalhadas pela cidade e isso me dá uma sensação de realização. O artista de antigamente, que começou na Escolinha Municipal de Artes, agora é o artista responsável por alguns dos maiores monumentos da cidade. Esse é o meu legado e a conexão que tenho com a minha terra”, conclui.
O trabalho de Silvio Morais é uma celebração da cultura goiana, da fé e da identidade anapolina, e com o maior sino do mundo, ele deixa sua marca registrada não só na história da arte de Goiás, mas no coração de todos que compartilham dessa herança cultural.