O episódio de violência que assombrou Anápolis nesta terça-feira, 20 de fevereiro, defronte ao Colégio Estadual Leiny Lopes, trouxe consigo uma tragédia inimaginável: a perda precoce do adolescente Nicollas Lima Serafim, de apenas 14 anos. O impacto dessa ocorrência não se limita apenas à fatalidade em si, mas também pela participação de três membros de uma mesma família no desdobramento dessa tragédia. Esse evento chocante evidencia não apenas a crueldade da violência, mas também levanta questões sobre os fatores que levaram a tal desfecho e como a sociedade pode lidar de maneira mais eficaz com tais situações.
O Psicólogo e professor da faculdade FAMA, Jean Pessôa, que mestre em Processos Psicossociais e Educacionais pela UFG, e atualmente responsável pelo Núcleo de Psicologia da Secretaria Municipal de Educação, falou ao Diário da Redação sobre esse triste episódio. Segundo ele, “é realmente chocante saber que um garoto de 14 anos morreu de forma não natural, mais chocante ainda é saber que a morte aconteceu de forma violenta pelas mãos de outro jovem. Não podemos afirmar com certeza absoluta os acontecimentos que antecederam esse evento, pois sempre existirão várias versões e pontos de vista sobre o ocorrido. O que podemos afirmar com certeza é que um garoto de 14 anos perdeu a vida, outros dois adolescentes precisaram ser hospitalizados, e um deles segue internado em estado grave lutando pela vida.
Em relação a eventos desta natureza, geralmente, nos sentimos comovidos com as histórias das vítimas e enraivecidos em relação aos autores da violência, e nos sentimos aliviados, com nosso senso de justiça satisfeito, quando os autores são identificados e punidos. Porém, essa dinâmica nos dá uma falsa sensação de justiça, de conclusão, que dura somente até a próxima violência acontecer perto o suficiente para nos chocar novamente e vivermos mais um ciclo. O problema é que esse ciclo não provoca mudanças de fato.
É preciso perceber que a violência não aconteceu por causa do videogame, do trânsito ou da torcida organizada. A violência foi banalizada, tanto aos olhos de quem a pratica, quanto aos olhos de quem a observa, esse é o verdadeiro problema.
A questão da violência tende a ser abordada pela sociedade em geral de maneira individualizada, particularizada, quando, na verdade, a violência precisa ser vista como um fenômeno social, que é extremamente complexo e multifatorial. Portanto, para lidar com a violência, é necessário abordá-la sempre com uma visão ampla, abrangente e, fundamentalmente, crítica.
A mudança acontece de fato, quando pensamos e viabilizamos formas de evitar a violência, pois, utilizando os acontecimentos citados anteriormente como exemplo, se não tivéssemos uma família na qual a violência foi tão naturalizada e banalizada, não teríamos uma mãe e um jovem de 20 anos presos e um adolescente apreendido, nem teríamos do outro lado, a notícia de um adolescente morto e outros dois hospitalizados.
A escola citada nas notícias virou um marco, mas a violência não está lá somente, a violência não está no jogo somente, a violência não está nos adolescentes somente. A violência está na sociedade e precisa ser abordada como tal. Na verdade, a violência na escola, no jogo, nos adolescentes e nos adultos são apenas sintomas de uma sociedade adoecida e adoecedora. Assim, a necessidade é de se pensar e praticar formas de prevenção à violência, todas envolvendo escolas, comunidades escolares e sociedade de forma geral, criando e executando políticas públicas de prevenção à violência, mas acima de tudo, combatendo a desigualdade, proporcionando acesso equitativo à educação, ao mundo do trabalho, além de políticas efetivas de prevenção ao crime e reinserção social a pessoas em conflito com a lei.
Por fim, é importante reconhecer que a redução da violência é um esforço contínuo que requer o envolvimento de todos os setores da sociedade. Governos, instituições educacionais, organizações da sociedade civil e indivíduos devem unir forças em prol de um objetivo comum: a criação de uma sociedade onde o diálogo e o respeito sejam os alicerces sobre os quais construímos nosso futuro.
Em última análise, diminuir a violência, tanto nas escolas quanto na sociedade em geral, é uma responsabilidade coletiva que exige não apenas políticas eficazes, mas também uma mudança cultural profunda. É hora de nos unirmos em prol de um mundo mais seguro e compassivo para as gerações presentes e futuras.”
Vanessa Vieira, é Biologa, Doutora em Ciência animal na área de Cirurgia, Patologia animal e Clínica médica – pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Ciências Veterinárias na área de Saúde Animal – pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora da Faculdade Metropolitana de Anápolis – FAMA. (Artigo especial publicado toda sexta-feira)