Pastor Eduardo Costa, servidor do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), voltou a ser visto nas ruas de Goiânia usando roupas femininas. Desta vez, o religioso foi fotografado no centro da capital com uma peruca e uma blusa vermelha. As imagens viralizaram nas redes sociais, assim como ocorreu dias atrás, quando ele foi flagrado vestindo calcinha e peruca loira próximo a um bar.
Em vídeo publicado no último dia 18, Eduardo, ao lado da esposa, a missionária Valquíria Costa, afirmou que o uso do figurino fazia parte de uma “investigação pessoal”. Segundo ele, a intenção era encontrar um endereço. O pastor relatou ainda que foi filmado sem consentimento e que sofreu tentativa de extorsão após o episódio.
Apesar da explicação, as imagens se espalharam rapidamente e levantaram novas discussões. Para especialistas em comportamento humano, situações como essa não podem ser analisadas apenas pela lente do escândalo. Psicólogos apontam que práticas como o crossdressing, o uso de roupas associadas ao gênero oposto, não estão necessariamente ligadas à orientação sexual, podendo representar apenas uma forma de expressão ou um recurso para lidar com conflitos pessoais.
No Brasil, marcado por forte influência religiosa e normas sociais conservadoras, episódios semelhantes geralmente provocam reações de humor ou reprovação, sem espaço para reflexões mais profundas. Especialistas lembram, no entanto, que a repressão a desejos ou expressões pessoais pode trazer consequências emocionais negativas, como afastamento afetivo, sofrimento psíquico e até a busca por realização em ambientes de risco.
Psicólogos analisam o caso
O comportamento do pastor abriu espaço para reflexões sobre identidade, desejo e repressão. Para o doutor em Psicologia Clínica e professor universitário Alvinan Catão, o desejo humano é inevitável e encontra maneiras de se manifestar:
“O desejo vai encontrando as vias para se realizar, e aí é mais forte do que o sujeito”, afirmou.
Segundo Catão, mesmo quando o indivíduo carrega fortes valores morais ou religiosos, a repressão pode ceder lugar a mecanismos psicológicos mais profundos. “Se não consegue reprimir, pode ocorrer cisão (mecanismo de defesa psíquico): ele performatiza a fantasia na ação, como se desse lugar a outro personagem”, explicou. Isso sugere que o ato de vestir roupas associadas ao gênero oposto não é um comportamento superficial, mas uma materialização de sonhos e desejos profundos que buscam expressão.
Complementando essa visão, o psicólogo Jean Pessôa, mestre em Processos Psicossociais, interpreta manifestações como essa como tentativas da mente de preservar a sanidade em um contexto doloroso ou opressor:
“A pessoa cria um mundo diferente para dar algum sentido ao que a adoece, sem perder totalmente o contato com a realidade.”
Além do sensacionalismo
O caso do pastor Eduardo Costa vai além do inusitado e do viral nas redes sociais. Para especialistas, trata-se de um episódio que levanta discussões sobre subjetividade, identidade e formas de expressão pessoal em meio a contextos de repressão e cobrança social. Mais do que um escândalo, o episódio evidencia como a sociedade ainda enfrenta dificuldades para lidar com manifestações que escapam do que se convencionou chamar de “normal”. Ele expõe as fissuras de uma cultura marcada por tabus, que muitas vezes silencia ou ridiculariza vivências subjetivas que merecem compreensão, empatia e debate responsável.