Anápolis celebra nesse sábado (26), não apenas o feriado da padroeira Sant’Ana, mas também um novo capítulo de sua história religiosa e cultural. Dentro das festividades dedicadas à santa, a tradicional Paróquia Sant’Ana, localizada no centro da cidade, será oficialmente elevada a Santuário Diocesano. Mais do que uma mudança de status, a transformação representa um convite à vivência mais profunda da fé cristã, num espaço de acolhimento, silêncio e reconexão interior.
A história da cidade está entrelaçada com a devoção a Sant’Ana desde suas origens. Por volta de 1870, durante uma viagem entre Jaraguá e Bonfim (hoje Silvânia), Dona Ana das Dores de Almeida enfrentou um contratempo: um dos burros de sua comitiva empacou, se recusando a continuar. Desesperada, ela fez uma promessa à santa de quem era devota. Se o animal voltasse a andar, ergueria uma capela em sua homenagem. O burro retomou o caminho, e naquele mesmo lugar, anos depois, seu filho Gomes de Souza Ramos fundaria a Capela de Sant’Ana. Assim nasceu o povoado que se tornaria Anápolis literalmente, a “cidade de Ana”.
Hoje, essa história é mais do que uma lembrança, ela segue viva nas tradições, nas festas religiosas e no sentimento de pertencimento da população. Segundo o historiador anapolino Jairo Alves Leite, “a cidade de Anápolis nasceu de uma promessa e de um gesto de fé. A devoção à padroeira moldou não só a religiosidade do povo, mas também sua identidade cultural”.
A elevação da Paróquia Sant’Ana a Santuário Diocesano acontece em meio ao desejo crescente das pessoas por um espaço de pausa, sentido e escuta. Em um mundo acelerado e barulhento, a busca por silêncio tem se tornado cada vez mais espiritual. Para o pároco Frei Alex, o novo santuário será esse espaço de acolhimento da alma. “Muitas pessoas chegam a uma igreja com uma sede interior que nem sempre conseguem traduzir em palavras”, afirma. “Um santuário, na sua essência, pode ser uma resposta vibrante e acolhedora para essa sede”.
Ele destaca que apenas o ato de entrar em um templo já é um sinal de abertura espiritual: “Em meio a tanto barulho, a pessoa entra numa igreja, ela já está se dispondo a fazer silêncio. E esse silêncio não é ausência de som, mas presença. É onde ela pode se reconectar consigo mesma e com Deus. Um refúgio do ruído, um antídoto contra a pressa.”
O Santuário Sant’Ana será, segundo Frei Alex, um espaço para oração, contemplação, escuta da Palavra e celebração dos sacramentos. Mas também será um local de serviço, onde a espiritualidade se traduz em ações concretas de amor ao próximo. “O santuário não oferece respostas prontas, mas cria um ambiente onde cada um pode encontrar a resposta que brota no próprio coração, iluminada pela graça de Deus.”
Além das missas e novenas, a festa da padroeira em Anápolis também conta com procissões, barraquinhas, apresentações culturais e momentos de partilha. A celebração do dia 26 de julho, portanto, não é apenas religiosa, mas também cívica e histórica: une passado e futuro, fé e identidade, tradição e renovação espiritual.
A cidade que nasceu de uma promessa agora se transforma para acolher novos caminhos da fé. E a devoção a Sant’Ana continua sendo o fio condutor dessa história, do burro empacado ao santuário, da capela erguida no cerrado ao coração silencioso de milhares de fiéis que, ainda hoje, encontram nela sentido, proteção e esperança.