No dia 8 de março de 1857, um marco histórico de resistência e luta feminina ecoou através dos corredores de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque. Operárias, cansadas das condições desumanas de trabalho, exigiram mudanças. Elas buscavam redução na carga horária, equiparação salarial com os homens e tratamento digno no ambiente de trabalho. Porém, sua manifestação pacífica foi brutalmente reprimida, resultando na morte de aproximadamente 130 mulheres, carbonizadas dentro da fábrica incendiada.
Apesar da tragédia, foi apenas em 1910, durante uma conferência na Dinamarca, que o 8 de março foi oficialmente designado como o “Dia Internacional da Mulher”, em memória das vítimas daquela fatídica greve. A data só foi oficializada pela ONU em 1975, após décadas de reconhecimento global da importância do evento.
Se pudéssemos traçar uma linha do tempo dos primeiros “dias das mulheres”, ela começaria possivelmente com uma grande passeata realizada em 26 de fevereiro de 1909, em Nova York. Nesse dia, cerca de 15 mil mulheres marcharam pelas ruas da cidade exigindo melhores condições de trabalho, em um período em que jornadas exaustivas de até 16 horas por dia eram comuns, seis dias por semana, incluindo domingos. Nessa passeata, teria sido celebrado pela primeira vez o “Dia Nacional das Mulheres” americano.
Enquanto isso, na Europa, crescia o movimento nas fábricas. Em agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a alemã Clara Zetkin propôs a criação de uma jornada de manifestações. Embora não tenha especificado uma data, sua proposta era uma jornada anual de manifestações das mulheres pela igualdade de direitos.
Em 1911, o primeiro Dia Internacional das Mulheres foi celebrado em 19 de março. No entanto, o 8 de março acabou prevalecendo, graças à onda de protestos que tomaram conta da Rússia em 1917, levando à Revolução Russa. Um grupo de operárias saiu às ruas em 23 de fevereiro pelo antigo calendário russo, que corresponde ao 8 de março no calendário gregoriano.
Após a Revolução Bolchevique, o dia foi oficializado como celebração da “mulher heroica e trabalhadora”. O chamado Dia Internacional das Mulheres só foi oficializado em 1975, pela ONU, durante o Ano Internacional das Mulheres, para lembrar suas conquistas políticas e sociais.
Hoje, o 8 de março é considerado feriado nacional em vários países, como a própria Rússia, onde as vendas nas floriculturas se multiplicam nos dias que antecedem a data, já que ali homens costumam presentear as mulheres com flores na ocasião. Na China, as mulheres chegam a ter metade do dia de folga, conforme é recomendado pelo governo, embora nem todas as empresas sigam essa prática. Nos Estados Unidos, o mês de março é um período histórico de marchas das mulheres. No Brasil, a data também é marcada por protestos nas principais cidades do país, com reivindicações sobre igualdade salarial e protestos contra a criminalização do aborto e a violência contra a mulher.
O Dia Internacional da Mulher é um lembrete poderoso das conquistas das mulheres, mas também das lutas que ainda persistem em busca de uma sociedade verdadeiramente igualitária, não é apenas uma celebração, mas um lembrete da luta contínua das mulheres por igualdade. Embora tenha havido avanços significativos, como a participação cada vez maior das mulheres na política, na economia e na sociedade em geral, ainda há uma distorção evidente e preocupante. Mulheres em muitos lugares enfrentam salários mais baixos, discriminação, violência masculina e desvantagens na carreira profissional.
A luta continua, Simone de Beauvoir diz “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”
Vanessa Vieira, é Biologa, Doutora em Ciência animal na área de Cirurgia, Patologia animal e Clínica médica – pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Ciências Veterinárias na área de Saúde Animal – pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora da Faculdade Metropolitana de Anápolis – FAMA. (Artigo especial publicado toda sexta-feira)