Morro da Capuava: onde história, fé e memória se encontram em Anápolis

Local de importância histórica e religiosa é um ponto de encontro para contemplação e meditação

No coração de Anápolis, longe do barulho do trânsito e do ritmo acelerado da cidade, existe um lugar onde o tempo parece desacelerar: o Morro da Capuava. Localizado na região norte do município, ele não é apenas um ponto alto com vista panorâmica é um símbolo. Um lugar que guarda histórias, inspira fé e acolhe quem sobe até lá em busca de silêncio, reflexão ou apenas um momento de paz.

Quem visita o morro, sente logo na chegada que aquele espaço tem algo especial. A brisa leve, a paisagem ampla e a sensação de estar mais próximo do céu transformam a subida em um exercício de calma. Para muitos moradores da cidade, o morro é quase um santuário ao ar livre. Famílias inteiras sobem para orar, grupos se reúnem para meditação, jovens vão para apreciar o pôr do sol. E, em meio a tudo isso, está uma história que vai muito além do visual bonito. 

O historiador Web Gabner cita em sua pesquisa de mestrado (LONJURAS UMA RAPSÓDIA PARA O MORRO DA CAPUAVA, ANÁPOLIS-GO/ UEG 2021) que: “A dificuldade de classificação do Morro da Capuava está justamente nessa situação de ambiguidade É sagrado? É profano? É ambos? no qual as práticas religiosas apresentam uma materialidade indiscutível por meio de ritos (gestos, cânticos, leitura/pregações), assim como as experiências contemplativa do espaço sem que se consiga dizer se há preponderância de um aspecto sobre outro”.

O Morro da Capuava, além de ser um refúgio espiritual e ponto de contemplação, também é guardião de importantes episódios da história brasileira. De acordo com registros do site Anápolis Brazil, renomados historiadores como Humberto Crispim Borges (História de Anápolis, 1975), Haydée Jayme Ferreira (Anápolis – Sua Vida, Seu Povo) e Paulo Bertran documentam que o morro foi palco da passagem da Coluna Prestes em duas ocasiões, nos anos de 1925 e 1926.

A Coluna Prestes foi um movimento político-militar ligado ao chamado tenentismo, que se insurgiu contra a República Velha e defendia mudanças estruturais no país, como o fim do voto aberto, a moralização da política e o acesso universal ao ensino primário. Liderada por Luiz Carlos Prestes, figura marcante da história nacional e que mais tarde se tornaria um dos símbolos do comunismo no Brasil, a coluna percorreu milhares de quilômetros pelo interior do país, deixando sua marca em diversas cidades e Anápolis foi uma delas.

A passagem da Coluna Prestes pelo Morro da Capuava é um dos elementos que conferem ao local não apenas relevância cultural, mas também valor histórico. Ali, naquele mesmo solo que hoje acolhe orações silenciosas e olhares para o horizonte, passaram homens que sonhavam com um Brasil mais justo e igualitário.

Imagem Vista Morro da Capuava
Vista Morro da Capuava em Anápolis (Foto: Reprodução)

Essa importância não passou despercebida. Com o passar dos anos, o morro foi reconhecido oficialmente em 2016 como patrimônio histórico e cultural de Anápolis. Era necessário protegê-lo, não apenas do crescimento urbano, mas também do esquecimento. E foi o que aconteceu. Ele foi tombado, revitalizado e recebeu infraestrutura para receber melhor quem deseja estar ali. Um mirante, um estacionamento, banheiros e áreas verdes hoje tornam a experiência mais segura e acolhedora.

Mas, mesmo com todas essas melhorias, o que faz do Morro da Capuava um lugar tão especial não pode ser medido em obras ou decretos. Está no gesto simples de quem sobe com uma vela nas mãos, no silêncio respeitoso de quem contempla a cidade do alto, na lágrima que escorre durante uma oração solitária. O morro é parte da vida de Anápolis como um velho amigo que está sempre ali, firme, vendo a cidade crescer.

E é essa relação afetiva que faz com que o Morro da Capuava seja, mais do que um ponto turístico, um espaço de pertencimento. Ele guarda memórias do passado, acolhe o presente e inspira o futuro. Em cada pedra, em cada passo da subida, há histórias sendo contadas e outras tantas sendo escritas por anapolinos que entendem que ali, no alto, há algo que conecta todos nós: nossa fé, nossa história e nossa vontade de permanecer lembrando quem somos.

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