Ministério da Saúde acionou neste início de outubro uma resposta coordenada ao aumento de notificações de intoxicação por metanol relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas e pediu que “todos os estados devem permanecer em alerta”, afirmou o ministro Alexandre Padilha. A pasta instalou uma sala de situação para monitorar os casos, orienta governos estaduais e municipais sobre protocolos clínicos e ampliou estoques de etanol farmacêutico, antídoto usado no tratamento, para atendimento imediato.
Padilha reforçou a recomendação para a população evitar destilados quando a procedência for desconhecida. “Recomendo, na condição de ministro da Saúde, mas também como médico: evite, neste momento, ingerir um produto destilado, sobretudo os incolores, que você não tem a absoluta certeza da origem dele. Não estou falando de um produto essencial para a vida das pessoas… É um produto que é objeto de lazer. Não faz problema nenhum na vida de ninguém evitar o consumo desses destilados”, disse o ministro em entrevista.
A autoridade enumerou orientações práticas ao público: ter certeza da procedência da bebida — não aceitar bebidas de origem duvidosa; manter alimentação e hidratação (o que pode reduzir o impacto em casos extremos, sem, no entanto, tornar segura a ingestão de álcool adulterado); e, se beber, jamais dirigir. Padilha acrescentou que as técnicas usadas por criminosos para adulterar destilados incolores tornam esse tipo de produto mais vulnerável do que, por exemplo, cervejas, cuja embalagem pressurizada e o gás tornam a adulteração mais difícil.
Números e medidas adotadas
Segundo informações do ministério, o país registrou 59 notificações relacionadas a suspeitas e confirmações de intoxicação por metanol: 53 em São Paulo, cinco em Pernambuco e uma no Distrito Federal. Em 11 desses casos, detectou-se laboratorialmente a presença de metanol. Diante do cenário, o governo afirmou ter formado uma sala de situação com representantes dos ministérios da Saúde, Justiça e Segurança Pública, Agricultura, da Anvisa, das secretarias de saúde estaduais e dos conselhos e entidades de vigilância.
Para garantir tratamento rápido, o Ministério criou estoques estratégicos de etanol farmacêutico concentrados em hospitais universitários federais e anunciou a compra de 4.300 ampolas para distribuir a centros de referência e unidades que não detenham o produto. Padilha explicou que a Anvisa já mapeou 604 farmácias com capacidade de produzir etanol farmacêutico e que o governo vai identificar unidades de referência em capitais para atendimento ágil aos gestores locais.
Na ponta investigativa e sanitária, a Polícia Federal foi acionada para apurar a origem das bebidas adulteradas e possíveis redes de distribuição interestadual, enquanto vigilâncias sanitárias estaduais e municipais promovem interdições e fiscalizações em pontos de venda suspeitos.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
O metanol é um álcool usado industrialmente como solvente e é altamente tóxico quando ingerido. Inicialmente metabolizado no fígado, converte-se em substâncias que atingem medula, cérebro e nervo óptico, podendo causar cegueira, coma, insuficiência renal e morte. Os sinais típicos aparecem entre 12 e 24 horas após a ingestão e incluem dor abdominal, náusea, vômito, tontura, confusão mental e alterações visuais.
Em casos suspeitos após consumo de bebida alcoólica, a orientação do Ministério é procurar imediatamente um serviço de emergência. Profissionais de saúde devem contactar o CIATox regional para orientação clínica e notificação, e ativar os protocolos de atendimento que incluem, quando indicado, administração de etanol farmacêutico, que atua como antídoto, inibindo a formação do metabólito tóxico, além de medidas de suporte e, se necessário, hemodiálise.
Riscos ao consumidor e recomendações
As autoridades pedem à população que evite adquirir bebidas sem nota fiscal ou sem lacre intacto, desconfie de preços muito abaixo do mercado e não consuma bebidas oferecidas por desconhecidos. Em eventos e festas, a recomendação é não aceitar bebidas sem procedência comprovada. Diante de sintomas após ingestão alcoólica, buscar atendimento imediato pode ser decisivo para reduzir sequelas.
Próximos passos
A Sala de Situação do Ministério da Saúde permanecerá ativa enquanto durar o risco sanitário, coordenando vigilância, assistência e investigação. A integração entre áreas de saúde, fiscalização e segurança busca interromper cadeias de adulteração e distribuir rapidamente insumos essenciais para o tratamento. Enquanto as apurações avançam, o apelo do governo é pelo consumo responsável e, por ora, pela importância de evitar destilados cuja origem não seja plenamente conhecida.