Criada nos anos 1940 em torno da Companhia Goiana de Fiação e Tecelagem de Algodão, a Vila Jaiara nasceu com a missão de abrigar trabalhadores da primeira fábrica têxtil do estado. Idealizada pelo engenheiro Luiz Caiado de Godoy, a localidade recebeu o nome em homenagem a seus filhos, Jairo e Yara, unidos na forma “Jaiara”.

Em 1951, a fábrica foi inaugurada oficialmente, trazendo para Anápolis um modelo de vila operária que se tornaria símbolo da industrialização goiana. Ao longo das décadas, a empresa passou por diferentes fases, sendo conhecida como Anatex e, mais tarde, Vicunha, que chegou a empregar milhares de pessoas.
O cotidiano na Vicunha

Uma ex-funcionária, Sra. Luzia Bento Mendonça, que começou sua vida profissional na fábrica, relembra com carinho o período:
“Era muito bom, o salário era bom. Foi meu primeiro emprego fichado, perto de casa. Era gostoso trabalhar lá, realmente valia a pena.”
Ela conta que o ritmo de produção era marcado pelos apitos que orientavam a entrada dos funcionários.
“Eram dois apitos. Faltando 15 minutos tocava um, e depois o definitivo para entrar. Mas lá dentro a gente quase não ouvia o de saída, de tanto barulho que tinha.”
O impacto da fábrica na região foi imediato: com o movimento de milhares de trabalhadores, o comércio floresceu. Bares, lojas e serviços se instalaram em frente à portaria, transformando o bairro em um centro pulsante de atividade.
“A Jaiara cresceu muito por causa da Vicunha. O movimento era enorme, tinha de tudo na porta da fábrica. Foi o que fez a região se desenvolver.”
O fechamento e a superação
No auge, a Vicunha chegou a ter mais de 4 mil funcionários, muitos deles sustentando famílias inteiras. O início da década de 1980, no entanto, trouxe dificuldades financeiras e o processo de demissões em massa.
“Foi muito ruim. Naquela época quase não tinha empresa no DAIA, então quando a Vicunha foi fechando, muitos pais de família ficaram sem trabalho. Era triste ver os colegas indo embora, gente que estava lá a vida inteira. Eu mesma saí antes de fechar, mas vi de perto o clima pesado.”
Apesar das perdas, a comunidade encontrou formas de se reinventar. Com o comércio, os serviços e a expansão habitacional, a Jaiara não apenas sobreviveu como se consolidou como a maior região urbana de Anápolis, reunindo hoje mais de 120 mil habitantes e dezenas de bairros.
De passado operário a cidade dentro da cidade

Se no passado a Jaiara foi marcada pelo apito da Vicunha e pela luta dos operários, hoje o bairro respira novos ares de progresso. A região abriga importantes instituições de ensino, como a Unifama, que contribui para a formação acadêmica e movimenta a economia local, além de concentrar um comércio forte e variado que atende não só os moradores, mas também vizinhos de outros bairros e cidades próximas. O que começou como uma vila operária transformou-se em um dos maiores polos urbanos de Anápolis, mostrando que a Jaiara continua crescendo, se modernizando e mantendo viva a força que sempre caracterizou sua história.
Para quem acompanhou essa trajetória, a transformação da Jaiara é evidente:
“Quando mudei para cá em 1976, quase não tinha casas, era perigoso, sem asfalto e sem energia em algumas áreas. Hoje, temos de tudo. A Jaiara virou praticamente uma cidade.”
Mais do que um bairro, a Jaiara simboliza resistência, identidade e pertencimento, sendo um capítulo essencial na história de Anápolis.