Anápolis, terra marcada por uma história que se entrelaça com os desafios das águas, vê-se frente a um dilema persistente: as inundações. Desde seus primórdios, quando ainda era Santana das Antas, a relação tumultuada entre o desenvolvimento urbano desenfreado e a natureza criou um cenário propício para tragédias anunciadas.
Em 2022, a Rua Amazílio Lino testemunhou uma tragédia que ecoou pela cidade, deixando marcas indeléveis. Três vidas foram perdidas em um acidente relacionado às inundações recorrentes, o PhD em Sensoriamento Remoto e climatologista da Estação Meteorológica de uma universidade de Anápolis, Eduardo Argolo, alertava há tempos sobre a vulnerabilidade da região. Em suas pesquisas, Argolo apontava o crescimento desordenado como um dos principais catalisadores das enchentes, ressaltando a ausência de um planejamento infraestrutural e urbanístico adequado.
A área ao redor do Rio das Antas, palco frequente das inundações, tornou-se vítima do próprio progresso desenfreado. A urbanização sem critérios, aliada às mudanças climáticas, transformou os rios de fontes de vida em potenciais ameaças à segurança e ao bem-estar da população. As palavras de Eduardo Argolo, que alertava para a tragédia iminente, se materializaram na perda trágica na Rua Amazílio Lino.
Em resposta a esse desafio crítico, a Prefeitura de Anápolis propôs um projeto ambicioso de macrodrenagem urbana. Consciente da necessidade de uma abordagem holística, o plano visa não apenas remediar os danos causados pelas inundações passadas, mas também prevenir futuros incidentes. A requalificação de sistemas de captação de águas pluviais, a construção de reservatórios de contenção e a readequação de áreas de risco são peças fundamentais desse quebra-cabeça complexo.
Entretanto, o desafio persiste. A implementação do projeto enfrenta obstáculos logísticos e financeiros, enquanto a conscientização da comunidade sobre a importância de práticas sustentáveis e ocupação responsável do espaço urbano torna-se crucial. A cidade de Anápolis se vê diante de um ponto de virada, onde as lições do passado se entrelaçam com as esperanças de um futuro mais seguro e resiliente.
As inundações em Anápolis, permeadas por uma história que remonta à época de Santana das Antas, exigem não apenas soluções imediatas, mas também uma abordagem estrutural que considere o passado para moldar um futuro mais seguro e sustentável para todos os Anapolinos.
Vanessa Vieira, é Biologa, Doutora em Ciência animal na área de Cirurgia, Patologia animal e Clínica médica – pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Ciências Veterinárias na área de Saúde Animal – pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora da Faculdade Metropolitana de Anápolis – FAMA. (Artigo especial publicado toda sexta-feira)