A Netflix confirmou a produção de “Emergência Radioativa”, minissérie inspirada no maior acidente radiológico da história do Brasil, ocorrido em Goiânia em 1987. A obra será dirigida por Fernando Coimbra e criada por Gustavo Lipsztein, com produção da Gullane, e deve acompanhar os esforços de médicos, físicos e vítimas diante da ameaça invisível do césio-137.
O enredo retratará o episódio em que dois catadores encontraram e abriram um equipamento de radioterapia abandonado, liberando uma cápsula com material radioativo que brilhou em tom azul e rapidamente atraiu a curiosidade e o manuseio de diversas pessoas. O resultado foi uma contaminação em larga escala, que mobilizou autoridades de saúde, especialistas em radiação e governantes, e deixou marcas profundas na sociedade goiana.
Entre os depoimentos que ajudam a contextualizar a dimensão do desastre, está o da Carla Santillo, ex-deputada e atual conselheira do Tribunal de Contas do Estado, ela é filha do então governador de Goiás, Henrique Santillo (1987-1990). Em entrevista concedida para o em documentário em áudio “Trajetória Política dos Santillo em Goiás”, ela relembrou os impactos políticos, sociais e econômicos da tragédia:
“A gestão enfrentou diversas dificuldades ao longo dos seus quatro anos. Um dos episódios mais marcantes foi o caso do Césio-137, que gerou grande pânico na população, especialmente após a visita do então presidente da República (José Sarney), que apareceu em Goiânia usando um traje de proteção semelhante ao de um astronauta, o que agravou ainda mais o clima de medo. Naquele período, a arrecadação do estado caiu vertiginosamente. Produtos goianos eram bloqueados nas estradas por outros estados, impedindo a circulação de mercadorias. Passageiros procedentes de Goiás também foram impedidos de desembarcar em alguns aeroportos do país. Houve, assim, uma forte reação nacional contra os goianos, o que impactou duramente a economia estadual”, Lembra.

A minissérie abordará não apenas a crise sanitária e o drama humano causado pela exposição ao césio-137, mas também o colapso da imagem pública de Goiás na época e a reação do país ao episódio. O diretor Fernando Coimbra enfatizou que a produção se propõe a mostrar “pessoas comuns enfrentando um desastre extraordinário”, focando nos desafios vividos por cientistas, médicos e civis diante do desconhecido.
Sem data de estreia confirmada, “Emergência Radioativa” promete relembrar um dos capítulos mais sombrios da história brasileira recente, um episódio que uniu tragédia, desinformação, preconceito e coragem, e que ainda carrega cicatrizes profundas para a população de Goiânia.
O Césio
No dia 13 de setembro de 1987, coletores de reciclagem de um Ferro Velho pegaram um equipamento de radioterapia abandonado onde funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia, eles abriram a cápsula de Chumbo que continha Cloreto de Césio composto químico de alta solubilidade. O pó azul com brilho único chamava muita atenção e curiosidade, talvez essa tenha sido a causa do achado ter se tornado um dos maiores acidentes radioativos do mundo. A radiação contaminou centenas de pessoas direta e indiretamente, cerca de 110 mil pessoas foram monitoradas e 249 pessoas tiveram contaminação significativa, dados do Relatório do Acidente Radiológico em Goiânia da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).