Após o encerramento do Carnaval, os fiéis das igrejas cristãs iniciaram, nesta quarta-feira (14), o período da Quaresma. Muitos seguidores, incluindo católicos, ortodoxos, anglicanos e luteranos, optam por praticar jejum ou abstinência de determinados alimentos ou bebidas como forma de penitência e renovação espiritual. A tradição de não comer carne durante a Quaresma tem suas raízes na história religiosa e cultural. A Quaresma é um período de 40 dias que antecede a Páscoa, destinado à reflexão, penitência e preparação espiritual para celebrar a ressurreição de Jesus Cristo.
Existem várias teorias sobre a origem dessa prática. Uma delas está ligada à prática de jejum e abstinência que remonta aos tempos bíblicos, onde a abstinência de carne era vista como uma forma de purificação e penitência. A prática do jejum durante a Quaresma foi formalizada nos primeiros séculos do Cristianismo, como uma maneira de os fiéis se conectarem com os sofrimentos de Jesus Cristo durante os 40 dias que passou no deserto, jejuando e resistindo às tentações de Satanás. No século IX, durante o pontificado de Nicolau I, foi estabelecida a prática de abstinência de carne todas as sextas-feiras para todos os cristãos maiores de sete anos. Inicialmente, era comum que as pessoas também se abstivessem nas quartas-feiras, além das sextas, evitando não apenas carne, mas também laticínios e ovos.
Além disso, a abstinência de carne durante a Quaresma também está ligada à tradição de não consumir alimentos de origem animal em determinados períodos do ano, como um ato de sacrifício e solidariedade para com os menos afortunados. Historicamente, o período da Quaresma coincidia com o final do inverno e o início da primavera, quando os estoques de alimentos estavam mais escassos, e a abstinência de carne permitia que os alimentos reservados aos animais fossem destinados aos seres humanos.
Ao longo dos séculos, a prática da abstinência de carne durante a Quaresma evoluiu e se tornou uma tradição enraizada na cultura cristã, especialmente nas denominações católica e ortodoxa. Embora as regras específicas tenham variado ao longo do tempo e em diferentes regiões, a abstinência de carne continua a ser observada por muitos fiéis como uma forma de disciplina espiritual, autocontrole e preparação para a celebração da Páscoa. Nos dias de hoje, muitas pessoas também adotam essa prática como uma forma de promover a saúde e o bem-estar pessoal, optando por uma dieta mais leve e baseada em alimentos vegetais durante a Quaresma.
Vanessa Vieira, é Biologa, Doutora em Ciência animal na área de Cirurgia, Patologia animal e Clínica médica – pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Ciências Veterinárias na área de Saúde Animal – pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora da Faculdade Metropolitana de Anápolis – FAMA. (Artigo especial publicado toda sexta-feira)