No último sábado (10), a cidade de Anápolis foi cenário da 3ª Caminhada dos Pretos Velhos, promovida pela Associação de Mães e Pais de Santo. Com o lema “Na humildade dos passos, ecoa a voz dos ancestrais”, o ato cívico, religioso e cultural percorreu as avenidas do bairro Jundiaí com a participação de mais de 100 pessoas e 12 terreiros da cidade.
A caminhada integra a programação da semana do 13 de maio, data simbólica que marca a abolição formal da escravidão no Brasil, ocorrida em 1888 com a assinatura da Lei Áurea. Para muitos movimentos negros e religiosos, a data representa não apenas o fim de um ciclo legal de escravidão, mas também um momento de reflexão sobre a resistência do povo negro, as lutas que persistem e a valorização da ancestralidade.
A idealizadora do evento em Anápolis, mãe Carmen Waldemar, destacou que a caminhada é “uma demonstração de fé, de muita força e de empoderamento dentro da cidade”. Para ela, caminhar pelas ruas da cidade é também uma forma de ocupar os espaços públicos com orgulho e afirmar o valor das religiões de matriz africana.
Anápolis, com cerca de 398 mil habitantes, é conhecida por sua base cristã conservadora, sendo considerada a cidade mais protestante de Goiás e a terceira mais evangélica do Brasil, segundo dados do IBGE. Ainda assim, a cidade é religiosamente diversa: 44,57% da população se declara católica, 41,88% evangélica, 1,47% espírita e 0,49% adepta de religiões de matriz africana. Cerca de 10% dos moradores se dizem sem religião.
Essa pluralidade, muitas vezes invisibilizada, torna eventos como a Caminhada dos Pretos Velhos ainda mais importantes. Eles não apenas fortalecem a identidade negra e religiosa, mas também promovem diálogo, respeito e visibilidade em um ambiente que pode ser marcado por intolerância e exclusão.
Celebrar os Pretos Velhos, entidades espirituais que simbolizam sabedoria, paciência e ancestralidade dentro das religiões afro-brasileiras é, acima de tudo, reivindicar um lugar legítimo na história e na espiritualidade brasileira, como enfatizam os organizadores.
A Caminhada dos Pretos Velhos em Anápolis se consolida, portanto, como um ato de resistência, fé e pertencimento, que conecta passado, presente e futuro sob os passos humildes, mas firmes, daqueles que carregam em si a memória e a força dos ancestrais.