O caseiro Jorge Ávila, de 60 anos, foi fatalmente atacado por uma onça-pintada às margens do rio Miranda, em Aquidauana, Mato Grosso do Sul. O incidente ocorreu enquanto ele realizava tarefas rotineiras na propriedade rural onde trabalhava. A Polícia Civil investiga o caso, e relatos indicam que a onça foi vista nas proximidades pouco antes do ataque.
Embora trágico, este episódio é considerado extremamente raro. Especialistas como Leandro Silva (Diretor do Instituto Onça Pintada) destacam que ataques de onças-pintadas a humanos são eventos excepcionais. Esses felinos, que habitam principalmente áreas de mata e regiões ribeirinhas, geralmente evitam o contato com pessoas. A maioria dos encontros entre humanos e onças ocorre em situações de invasão de habitat ou quando os animais se sentem ameaçados.
Em contraste, outros animais representam riscos mais frequentes à saúde humana no Brasil. Em 2024, o país registrou 6.652.053 casos prováveis de dengue, resultando em 6.022 mortes, número quatro vezes maior que o do ano anterior. A maior parte dos acidentes com escorpiões ocorre em áreas urbanas, devido à fácil adaptação desses aracnídeos ao ambiente das cidades.
Além disso, doenças transmitidas por mosquitos, como dengue, zika e chikungunya, continuam a ser uma preocupação significativa. Em 2024, o Brasil enfrentou surtos dessas doenças, com milhares de casos registrados em diversas regiões. A dengue, por exemplo, é endêmica em várias partes do país e, em anos epidêmicos, pode causar centenas de mortes.
O caso de Jorge Ávila, embora trágico, é uma exceção. A maioria das ameaças à saúde pública no Brasil está associada a animais menores e mais comuns no cotidiano urbano.
Instinto ancestral: o pavor diante de um predador
O ataque fatal de Jorge Ávila também evoca uma reação profundamente humana: o pavor diante de um grande predador. Essa emoção intensa muitas vezes descrita como paralisante, é uma herança evolutiva. Por milhões de anos, nossos ancestrais conviveram com animais capazes de matá-los em segundos. Sentir medo, perceber o perigo antes que ele se concretize e reagir rapidamente eram habilidades que favoreciam a sobrevivência.
Mesmo hoje, em um mundo amplamente urbanizado e mediado por tecnologia, esse instinto permanece vivo. O simples avistamento de um grande felino na natureza pode desencadear uma descarga automática de adrenalina um mecanismo de defesa tão antigo quanto o próprio Homo sapiens. Embora o risco real de um encontro fatal com uma onça-pintada seja mínimo, a resposta emocional a esse tipo de ameaça continua inscrita em nosso sistema nervoso como um legado de tempos remotos.
Por isso, casos como esse, ainda que extremamente raros, ressonam tão profundamente no imaginário coletivo. Eles nos lembram de que, apesar de todo o avanço, ainda somos parte da natureza, e que a sensação de vulnerabilidade diante de um predador ecoa diretamente das savanas e florestas onde nossa espécie aprendeu, pela primeira vez, a temer e a sobreviver.